A génese de “Operação Maré Negra”

Mais que uma série de ficção baseada em eventos reais, Maré Negra é o nome de um caso internacional de polícia e uma cooperação entre Portugal e Espanha no confronto ao tráfico de estupefacientes.

Foi notícia em novembro de 2019, a apreenção na Galícia de um semisubmersível que transportava 3 toneladas de estupefacientes. As drogas foram embarcadas nos Amazonas com destino a uma posição localizada a 270 milhas de Lisboa onde seriam recolhidas por lanchas rápidas. Porém, ao não conseguirem fazer a troca no local, a tripulação dirigiu-se para a Galícia, local onde existem muitos “narcolancheiros” para fazer a recolha. A eventual captura fruto da ação conjunta entre as polícias espanhola e portuguesa, levou sete indivíduos a julgamento.

Este caso chegou imediatamente aos jornais e às mãos de Júlio Cabral e Mamen Quintas da Ficción Producciones. Na altura, estavam a filmar Vivir Sin Permiso na Galícia com Álex González quando comentaram com o actor que esta era uma história muito cinematográfica. Adicionalmente, o facto de se passar entre o Brasil, Portugal e Espanha, tinha potencial para ser uma grande coprodução. A Ficción Producciones apressou-se a fazer a proposta à Prime Vídeo para uma série com base neste caso.

Entretanto, em dezembro de 2020, a RTP procurava um novo projeto juntamente com a Prime Vídeo, depois do sucesso de “3 Caminos”. Havendo a proposta na Prime Vídeo e, segundo José Fragoso da RTP,  “achámos que fazia sentido avançar para esta história, dimensionada em quatro episódios mas com muita ação, com muita dinâmica, logo com uma perspectiva de se fazer uma série completamente diferente do que se faz em Portugal”. Ao decidir avançar com o projeto, era preciso uma produtora nacional e, como a Ficcion Producciones tinha muito boas relações com a Ukbar, foi Pandora da Cunha Telles quem fez a co-produção com Espanha.

“Há um ano [fevereiro 2021] a Pandora falou-me desta coprodução com Espanha, ainda não havia nada escrito e a rodagem ia começar no verão” segundo João Maia, o co-realizador português do projeto “foram timings assustadores”. Pandora da Cunha Teles reforça o processo pouco ortodoxo do desenvolvimento “decidimos o que ia ser feito em Portugal e em Espanha antes da escrita dos guiões. O normal é ter um guião e ir à procura dos décors e não ter primeiro um esqueleto onde se passava a história”.

Todo este projecto necessitou de uma grande coordenação, envolvendo três realizadores em locais diferentes, onde era imperativo manter a coerência de realização e de imagem entre as diversas equipas “o Daniel [Calparsoro] formatou a linguagem cinematográfica da série. Depois, com o seu diretor de fotografia e o que estava comigo, definiram a imagem e seguimos a linguagem. Eu senti, quando li os guiões, que era uma série de ação. Tem cenas que eu achei mais difíceis depois do primeiro episódio com os barcos e tem um episódio passado no interior do semisubmersível. Eu achei fascinante a forma como estava escrito. Foram-me enviando as rushes para eu ter uma noção do que se fazia e, a partir de certa altura, a linguagem estava estabelecida”.

David Trejo (Angelito), Álex González (Nando) e Leandro Firmino (Walder)

Continua: “Foi uma coisa muito natural de se fazer. Dei-me muito bem com as equipas de lá, uma parte da equipa era portuguesa, o som e a maquilhagem eram portugueses, a iluminação também com um diretor de fotografia jovem, cheio de iniciativa. Foi tudo muito natural e eu só tenho a dizer bem. Foi tudo muito direitinho, nunca tivemos atrasos, nem nenhum problema de produção”. Remata que “é o facto de que passado um ano estamos aqui com isto a estrear”.