Crítica – “Matrix Resurrections” (Lisa Mira)

A visionária realizadora Lana Wachowski apresenta-nos o 4º filme do franchise Matrix. É o primeiro filme da saga que realiza sozinha sem a colaboração da sua irmã Lili.

Com estreia para a semana do Natal, Matrix Resurrections é um dos filmes mais esperados deste ano, recheado de simbolismo, efeitos especiais, com um elenco de luxo e, claro, grandes momentos de lutas marciais.

Se estão à espera de uma mera continuação de história, desenganem-se. Este filme, apesar de avançar num futuro próximo, conta com várias retrospectivas de momentos dos filmes passados, proporcionando uma melhor percepção do conceito “Matrix” aos mais desatentos. Chega, ainda, a surpreender-nos com alguns momentos de humor. Se desaponta ou não, fica a questão no ar. O que é certo, é que haverá com toda a certeza opiniões contraditórias relativamente a este trabalho de Lana Wachowski.

Numa curta síntese, e para os mais jovens ou os que não acompanharam os 3 primeiros filmes, Matrix é uma realidade virtual onde uma civilização permanece sob a superfície da Terra, aprisionada por uma simulação. A maior parte está dentro de casulos controlados por computadores com inteligência artificial. Os humanos servem de fonte de energia para as máquinas e vivem num limbo, numa realidade simulada, acreditando estar numa civilização outrora destruída.

O futuro é artificial, o natural é só passado. Mas alguns humanos conscientes do seu estado, como Neo, Morpheus e Trinity, conseguem fugir deste destino e lutar, criando assim um grupo de rebeldes que entra e sai da realidade induzida pelas máquinas e controlada pelo Agente Smith e as suas réplicas.

Para conseguirem ter noção da verdadeira realidade, terão de usar o poder de escolha entre duas pílulas. A vermelha, clarifica o verdadeiro estado da humanidade e quem a ingere tem esperança de mudar o futuro, de arriscar e ser pró-activo; a azul, mantém a ilusão criada pelas máquinas. Quem opta por esta, prefere viver num mundo calculista e racional.

Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II)

Em Resurrections, encontramos de novo Thomas Anderson (Keanu Reeves) um famoso informático conhecido pelos seus jogos de computador “Matrix”. Thomas vive constantemente em dúvida e num mundo que não consegue fazer seu. Apesar do seu êxito, ele questiona tudo à sua volta sem conseguir ter ligações emocionais. O jogo que criou e que o fez famoso é tão somente as experiências passadas vividas como Neo, que se revelam para Thomas não como memórias mas sim como um mundo imaginário muito diferente do “real” que tanta ansiedade lhe traz. 

Somente uma pessoa desperta a sua atenção: Tiffany (Carrie-Anne Moss). A ligação que ele sente ao ver esta mulher todos os dias num café perto do seu trabalho, é tão forte que o impele a iniciar contacto com a misteriosa personagem.

À partida, Tiffany tem tudo o que deseja, marido, filhos e uma carreira profissional, mas algo desperta nela o desejo de conhecer melhor Thomas, questionando toda a sua existência.

Com a ajuda de um jovem Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II), e de Bugs (Jessica Henwick), Thomas convence-se que este mundo não é o seu e opta pela pílula vermelha confrontando a realidade induzida e os seus agentes.

A necessidade de Neo em ter Trinity a seu lado é de tal forma que ele só fica completo quando a encontra e se consegue conectar com ela. Os dois fazem um só e juntos são mais fortes.

Lana consegue, assim, apresentar este filme com uma nova dinâmica, mais emocional, com breves momentos de humor, mas mantendo sempre a ligação aos anteriores.

Mantém o forte simbolismo e as mensagens escondidas, para que possamos ver e rever e estudá-lo ao mais ínfimo pormenor.

Mais que uma saga, os filmes Matrix têm uma componente crítica e satírica em relação à sociedade contemporânea e aos perigos de uma realidade sob o domínio da tecnologia. É uma reflexão sobre a condição humana, o conhecimento, a consciência e o livre arbítrio.

Algumas curiosidades interessantes:

  • Matrix tornou-se uma saga de culto por misturar referências: anime, mangá, subcultura cyberpunk, artes marciais, filosofia, filmes de ação japoneses, entre outros.
  • Além dos 4 filmes, o franchise conta também com nove curtas de animação, Animatrix, e um jogo de computador chamado Enter The Matrix.
  • Os atores Will Smith e Nicholas Cage foram convidados para o papel de protagonista, mas rejeitaram a oferta.
  • O primeiro filme tornou-se uma grande influência para os filmes de ficção científica que se seguiram, tornando célebre o efeito bullet time, que coloca as imagens em câmara lenta.
  • Em 2002, o célebre filósofo e crítico de cinema Slavoj Žižek usou a frase de Morpheus para intitular o seu livro Bem-Vindo ao Deserto do Real.
  • Após o sucesso do filme, surgiram várias teorias: uma das mais populares é que “O Escolhido” é Smith e não Neo.
  • O código verde que vemos em Matrix é, na verdade, composto maioritariamente por receitas de sushi em caracteres japoneses.

Realizado por Lana Wachowski, “Matrix Resurrections” tem argumento da realizadora em parceria com David Mitchell e Aleksander Hemon. Do elenco fazem também parte Yahya Abdul-Mateen II (“Aquaman“) Jessica Henwick (“Iron Fist“), Jonathan Groff (“Mindhunter“), Neil Patrick Harris (“Em Parte Incerta”), Priyanka Chopra (“Quântico”), Christina Ricci (“The Lizzie Borden Chronicles”) e Jada Pinkett Smith (“Gotham”).

“Matrix Resurrections”, da Warner Bros, tem estreia marcada nas salas de cinema portuguesas dia 22 de dezembro.

Nota: 8/10