Deixa-te levar pelas doces palavras de Cyrano
Entre performances musicais brilhantes, duelos até a morte, risos e gargalhadas, emerge uma história de amor cheia de emoções fortes. Uma mensagem realista, que ilustra muito bem como as nossas inseguranças geram muitas vezes complicações na nossa vida.
Nesta adaptação do realizador Joe Wright, viajamos até Paris do séc. XVII, numa época em que os duelos ainda eram permitidos e França se encontrava em guerra. É neste cenário que acompanhamos o percurso de um triângulo amoroso, entre Cyrano de Bergerac (Peter Dinklage), Roxanne (Haley Bennett) e Christian (Kelvin Harrison Jr.).

OS PERSONAGENS
Cyrano de Bergerac é um homem inteligente, bastante habilidoso tanto com as palavras, como com a espada. É oficial do exército e está perdidamente apaixonado por Roxanne. Infelizmente, acha que não é digno do amor da mesma, devido à sua aparência. Normalmente, temos assistido à representação desta personagem com um nariz enorme, no entanto, não é esse o caso nesta versão. Desta vez, temos um Cyrano anão.
No outro canto do triângulo amoroso temos Christian, um jovem recruta, acabado de chegar à cidade para se juntar ao mesmo batalhão de Cyrano. É fisicamente atraente, mas não é muito brilhante. Falta-lhe destreza com as palavras, nunca tendo dado muita importância à leitura ou ao seu vocabulário, pois sempre soube que estava destinado a ser um soldado. Também ele se apaixona por Roxanne, quando a vê pela primeira vez no teatro.
Por último, temos a bela Roxanne. Uma mulher intelectual, amante de poesia. Mantém uma velha amizade com Cyrano e financeiramente está quase falida, o que a leva a “escolher” a companhia do Duque, De Guiche (Ben Mendelsohn), apesar de não nutrir sentimentos românticos por ele. Roxanne apaixona-se à primeira vista por Christian e idealiza-o como o homem perfeito: bonito, atraente e inteligente. Porém, esta imagem está muito longe de ser verdade.

A ALIANÇA
Ao pedido de Roxanne para receber cartas de amor, Christian, parco nas suas palavras, pede auxílio a Cyrano. Os dois formam uma aliança moralmente questionável, em que um representa a beleza interior e a alma com a sua poesia, e o outro é a personificação da beleza e perfeição.
Apesar de também estar perdidamente apaixonado por Roxanne, Cyrano acredita que esta nunca se apaixonaria por alguém com a sua fisionomia e está disposto a sacrificar a sua própria felicidade para a ver feliz.
O MUSICAL
Todo este drama é acompanhado por incríveis performances musicais que complementam cada cena na perfeição. Desde o simples processo de amassar o pão até à marcha de Guiche à casa de Roxanne (que me fez lembrar a obsessão que Claude Frollo tinha por Esmeralda em “O Corcunda de Notre Dame”).
Os momentos musicais, não só tornam as cenas mais emocionantes e excitantes, como servem de contrabalanço aos momentos mais sombrios do filme, como os horrores da guerra.

AS PERFORMANCES
Cada um dos atores está de parabéns.
Conseguem interpretar personagens tridimensionais e com complexidade. Christian não é só um rapaz bonito sem habilidade para a escrita. Ele várias vezes questiona a moralidade de entregar cartas escritas por outro, uma vez que o que está em jogo são os sentimentos de uma mulher. Tenta ainda encorajar Cyrano a revelar a verdade para dar a Roxanne a oportunidade de escolher entre os dois.
Tenho de admitir que Peter Dinklage merece uma menção especial. Ele tem uma performance visceral. A forma como expressa de forma intensa alegria e tristeza é fascinante. Difícil não sentir alguma empatia.
CONCLUSÃO
Cyrano é uma comédia romântica que vai fazer rir, chorar e refletir sobre alguns aspetos da vida. Tem clichês típicos dos filmes românticos mas que são aplicados com reviravoltas, tornando a história mais interessante e menos previsível.
Nota Final: 8.5/10