Halloween – 44 anos de Puro Mal

Por Manuel Monteiro

A origem do franchise

Halloween é sem dúvida uma das sagas mais bem-sucedidas de filmes de terror. Este franchise conta com 13 filmes, várias obras literárias, livros de banda desenhada e até alguns videojogos, continuando a marcar gerações e a esgotar salas de cinema.

Tudo começou na segunda metade dos anos 70 quando o produtor Irwin Yablans pediu a Carpenter para fazer um filme de terror de pequeno orçamento. A história teria que se passar na noite mais aterrorizadora do ano, tendo uma baby-sitter por protagonista. Carpenter aceitou o desafio e fez questão que a produtora do filme fosse Debra Hill, que o ajudou a desenvolver o guião.

Hill deu à figura da baby-sitter todas as características de uma doce jovem americana, com os seus dramas adolescentes e com o seu grupo de amigas, vivendo numa pacata vila americana, Haddonfield. Todos os espetadores se poderiam identificar com ela com facilidade. Mas Hill, que sempre fora muito ligada às questões feministas, também quis que ela enfrentasse o antagonista, mostrando que mesmo uma mulher amável e encantadora poderia ser corajosa e lutadora para proteger aqueles de quem gosta. É assim que surge Laurie.

Por sua vez, Carpenter focou-se em desenvolver o vilão, the shape, “a forma” (mais conhecido por Michael Myers) e toda a sua mitologia. A intenção era ter uma figura humana que encarnasse o puro mal, porque ninguém consegue matar “o mal”. Michael seria uma força da natureza, imparável, sem remorsos, sem qualquer emoção. Um “monstro” que não fala e que usa uma máscara aterradora com uma expressão vazia. Carpenter decide também criar o Dr. Samuel Loomis, o psiquiatra de Michael, personagem que serviria para estabelecer todas as características de Michael duma forma mais óbvia para o espetador. Carpenter vai buscar inspiração aos filmes de Alfred Hitchcock, sobretudo a Psycho de 1960, filme que o marcou para sempre devido ao suspense e emoção que provoca no espetador.

Halloween estreia em 1978, com Jamie Lee Curtis no papel de Laurie e Donald Pleasence no papel de Dr. Loomis. Conta a história de Michael Myers, que foge de um hospital psiquiátrico rumo à sua cidade natal, 15 anos depois de matar a irmã. Laurie tem o azar de se cruzar com Michael e de lhe despertar a curiosidade. Na noite de Halloween enquanto Laurie faz babysitting, Michael decide fazer-lhe uma visita…

O filme é um tremendo sucesso! O “filme de terror barato”, que custou (apenas) 300 mil dólares acaba por arrecadar perto de 70 milhões de dólares nas bilheteiras dos Estados Unidos! Os cinemas exibem-no todos os anos no Halloween, tornando-o num clássico dos filmes de terror conhecidos como slasher movies.

Com o sucesso do primeiro filme, estreia Halloween II em 1981, realizado por Rick Rosenthal e com argumento de Debra Hill e de Jonh Carpenter. A sequela começa no exato momento em que o primeiro filme acaba: Laurie vai para o hospital, sempre perseguida por Myers. É neste filme que descobrimos que a Myers e Laurie são irmãos e que a sua obsessão por ela não é assim tão arbitrária como o primeiro filme nos fez acreditar.
Estes dois filmes são sem dúvidas os alicerces do franchise, ao estabelecer os contornos psicológicos dos personagens e a base principal de toda a trama.

Halloween sem Myers? Exato!

Em 1982 estreia Halloween III – Regresso Alucinante, dirigido por Tommy Lee Wallace. É o único filme em que Michael Myers não aparece, e também o único filme que não está diretamente ligado com a história inicial, abordando temas como a bruxaria e a tecnologia (misturando rituais pagãos com … androides) e assumindo uma posição claramente anti capitalista e anti corporativista. Conclusão: não agradou aos fãs nem aos estúdios.
O Regresso, a Vingança e a Maldição de Myers: formam uma trilogia dentro da saga global.

Em 1988, para celebrar os 10 anos do filme original, chega aos cinemas Halloween 4 – O Regresso do Assassino, dirigido por Dwight H. Little. Era exatamente o que os fãs queriam: o regresso do icónico vilão! Passado 10 anos Michael volta a Haddonfiled para matar Jamie (interpretada por Danielle Harris). Jamie é a filha de Laurie e, portanto, a sobrinha de Myers. Caberá ao Dr. Loomis (Donald Pleasence) evitar que Myers consiga concretizar os seus intentos. Neste filme Jamie parece poder conter em si a semente da maldade que já frutificara em Myers, assumindo uma presença mais ambígua: o mote para o filme seguinte.

No ano seguinte estreia Halloween 5 – A Vingaça de Michael Myers, dirigido por Dominique Othenin-Girard. O filme segue os momentos do anterior e continua a mostrar a busca incessável de Michael por Jamie. A obra introduz novos elementos sobrenaturais ao franchise, e descobrimos que Jamie e Michael têm uma ligação paranormal na qual ambos sentem e vêm aquilo o outro sente ou vê.

Dirigido por Joe Chappelle chega ao cinema Halloween 6: A Maldição de Michael Myers, em 1995, o filme que termina esta trilogia. Neste filme, que se passa 6 anos após o anterior, Jaime (interpretada por J. C. Brandy) foge de um hospital psiquiátrico com o seu filho recém-nascido. Myers persegue Jaime (sua sobrinha) por acreditar que o sacrifício do bebé trará fim à linhagem e à maldição da família Myers. No meio disto ainda existe um culto satânico e uma tentativa de clonar Michael.

Laurie de volta ao grande ecrã

Duas décadas depois do filme original, Halloween regressa com Halloween H20: O Regresso, uma sequela ao segundo filme. É como se Michael estivesse adormecido durante vinte anos. Neste filme Laurie (Jamie Lee Curtis) volta a assumir o protagonismo do início da saga. Descobrimos que ela fingiu a sua morte e está a viver sob um nome falso. Michael descobre que a sua irmã está viva e volta a tentar matá-la. Laurie dá-lhe uma valente coça! Em tudo prova a cvisão original de Hill onde a sua protagonista feminina é mais do que uma mera Scream Queen, muito capaz de se defender. Este filme, dirigido por Steve Miner, foi bem recebido pelos fãs e pela crítica, que ansiavam por ver Laurie de volta ao grande ecrã.

Em 2002 surge Halloween – A Ressurreição, realizado por Rick Rosenthal. A casa Myers, onde Michael viveu na sua infância (há 52 homicídios atrás!) será o palco para um reality show em que os concorrentes tentam desvendar o mistério da origem de Michael. Como é óbvio, o verdadeiro Michael acaba por os visitar!… Quanto a Laurie, está internada num hospital psiquiátrico e quase não participa no filme.

Halloween visto pelos olhos de Rob Zombie
Em 2007 estreia Halloween e em 2009 é a vez de Halloween II. São dois remakes dos primeiros filmes. Realizados por Rob Zombie (por muitos considerado um mestre do cinema de terror), assentam numa narrativa muito semelhante à original, embora explorem com mais acutilância a infância de Myers. Os filmes trazem à tona as características habituais dos filmes de Zombie, conhecido pelas cenas de violência explícita, extremamente gráfica, e pelas cenas de nudez.

A saga final
O filme Halloween de 2018 é uma sequela de Halloween II (1981). Procura negar todos os multiplos filmes que não tiveram o envolvimento de Carpenter. Como teria de ser, Jamie Lee Curtis “re-regressa” no papel de Laurie. Myers está hospitalizado há 40 anos, mas quando lhe mostram a máscara que usou para cometer os homicídios não resiste ao desejo de matar a família que lhe resta. O filme, de David Gordon Green, foi bastante bem recebido quer pelos fãs quer pelos críticos que o consideraram a “melhor sequela de Halloween e um retorno à forma original da série”. Deste modo consolidou-se a mensagem que dever/se/ia ignorar as multiplas sequelas após Halloween II original.

No ano passado estreou Halloween Mata, que começa exatamente onde o último filme acabou. Descobrimos que Michael sobreviveu. E que foge de uma multidão que lhe tenta tirar a vida, cansada de ser aterrorizada pela sua presença assassina.

Dia 14 de Outubro de 2022 chegou aos cinemas portugueses o décimo terceiro e último filme da saga Halloween. Intitulado Halloween O Final é realizado por David Gordon Green, e teve uma excelente receção pelos espetadores portugueses. Para quem for ao cinema, a verdadeira questão é o que representará o final feliz para Laurie, mas Jamie Lee Curtis garante continuamente o encerrar da cortina final da história que nos assombra desde 1978. Há exatamente 44 anos…