O regresso de “Star Trek Picard”

Mais que uma série para os fãs de Star Trek, esta é dedicada a quem aprecia o trabalho de Sir Patrick Stewart. Um ator emblemático que, apesar de ser maioritariamente reconhecido como a personificação do Capitão, agora Almirante, Picard (Star Trek) ou do Professor Charles Xavier (X-Men), tem também uma carreira gloriosa nos palcos do teatro Inglês, na BBC e no cinema independente, como por exemplo em Mr. Holmes.

Jeri Ryan, Patrick Stewart, Michelle Hurd e Evan Evagora

Star Trek Picard é um projeto pessoal seu. Uma produção cuja primeira temporada explorava os limites da percepção da mortalidade e da definição de vida em si, através da temática da inteligência artificial. Foi uma viagem de redenção e de regresso ao espaço, capaz de revisitar personagens clássicos de Star Trek: a Nova Geração, assim como apresentar uma nova equipa para aventuras futuras.

Os primeiros momentos do primeiro episódio da segunda temporada mostram a continuação deste registo. Uma nave espacial da Federação está sob ataque. Seguimos alguns oficiais a dirigirem-se para a ponte através de corredores em alerta vermelho e a serem atirados contra as suas paredes por explosões vindas do exterior. Uma situação de emergência, pânico e certeza de uma destruição garantida transmitida por planos cada vez mais fechados sobre as personagens. Ao chegar à ponte da Stargazer, testemunhamos Picard a despoletar a autodestruição desta nave e de todos a bordo.

Não se tratou de um final. Regressamos 48h antes do fatídico dia para ilustrar o presente de cada um dos personagens da primeira temporada. Cada um a viver com as suas novas responsabilidades, por mais mundanas que sejam. Acima de tudo, mostrar um universo ainda com conflito, mas de certo modo com alguma harmonia.

E nisto tudo, Picard, agora um sintozóide (humano artificial) a viver a reforma, revela-se incapaz de se relacionar a um nível mais íntimo com quem o rodeia. Desta vez, esta falta de intimidade emocional e psicológica, leva-o a procurar os conselhos de uma velha amiga e conselheira Guinan, de novo interpretada por Whoopi Goldberg.

Curioso que Patrick Stewart e Whoopi Goldberg viveram um momento emocionante de televisão quando Stewart a convidou em direto num talk show para participar nesta segunda temporada de Star Trek Picard.

Whoopie Goldberg (Guinan) e Patrick Stewart (Jean-Luc Picard)

É Guinan quem dá o mote para esta nova temporada. Apesar da ameaça de uma misteriosa raça capaz de abrir um portal pelo espaço e tempo, a narrativa assenta nas motivações e no passado de Jean-Luc Picard: o que realmente aconteceu para que este partisse para o espaço.

A resposta não está neste episódio, mas Guinan não é o única a colocar esta questão a Picard. A entidade particularmente infantil conhecida como “Q” tem um fascínio muito especial pelo Almirante desde o primeiro episódio de Star Trek: a Nova Geração.

“Q” regressa para relembrar Picard que “o julgamento nunca termina” e que este falhou na principal questão de todas. No fundo, a mesma que Guinan expõe. Porém “Q” não é capaz de subtilezas. Reescreve o passado, colocando Picard e a sua tripulação num novo desafio, ou num “caminho não tomado”. Talvez consideremos “Q” um amigo de Picard  demasiado forte, mas a verdade é que por mais infantil ou demagogo que ele seja, existiu uma grande evolução neste sentido ao longo de várias temporadas que poderá agora chegar ao seu grande final.

Apenas podemos falar deste primeiro episódio, que serve os mesmos moldes de alguns episódios clássicos de Star Trek, a Nova Geração, com uma ameaça a uma escala galáctica e outra capaz de alterar todo o espaço e tempo. No final, sabemos que todas as ameaças do universo estarão na mão de Jean-Luc Picard para resolver se ele conseguir ultrapassar a única fronteira que nunca enfrentou. Temos aqui a promessa de toda a ação, aventura e mistério que podemos esperar de Star Trek da atualidade e que a solução está na premissa “olha para as estrelas”.